Entre nossas casas costumava haver uma ponte de estrelas, ainda as vejo, piscando, todas quase ao mesmo tempo, nas minhas lembranças malogradas. Por um instante penso em como foram parar lá, mas depois me lembro de que isso não importa. À época eu acreditava que fosse obra sua, não havia outra explicação para meu coração apaixonado. Sempre que me recordo de todas as surpresas que me fizestes, tenho todas guardadas no lugar das coisas mais valiosas do meu coração. Essa ponte de estrelas unia nossas casas nas noites de verão, quando nos encontrávamos debaixo de nossa árvore, e nos iluminava em direção ao lago que havia a poucos metros de nossos quintais enquanto corríamos nus, sentindo o ar gelado da noite, depois a água morna e o calor de nossos corpos. Era possível ouvir seu coração batendo incontrolavelmente, mesmo com o meu pulsando nas minhas orelhas. Só nós dois e o que sentíamos. Incrível como o tempo muda os sentimentos, soterra as emoções com outras mais recentes e menos nobres. Eu não acreditaria em nenhuma previsão de que perderíamos tudo aquilo. No entanto, perdemos.
Não me lembro muito bem do momento exato, talvez porque não tenha acontecido assim. Foi uma sucessão de fatos, de mágoas, de erros que cometemos. Sim, nós dois. Sei que te responsabilizei, mas hoje percebo o quanto contribuí para que o lago, as emoções, as estrelas ficassem para trás. Completamente. A última gentileza que fizemos foi nos separarmos. Depois, só ofensas e dor. Mas sempre me lembro do lago, de voltarmos exaustos e sorridentes, de no dia seguinte olharmos os beirais de nossas janelas procurando os bilhetes que trocávamos. A mangueira ainda tem nossos nomes tatuados dentro de um coração flechado. Ah, os clichês! Como éramos cretinos e imbecis! E como éramos felizes! Agora mesmo, nesse exato momento, tudo o que eu queria era encontrar a ponte de estrelas unindo nossas casas adolescentes, mas até os astros confirmam que nossa ponte foi derrubada. Só gostaria de sentir mais uma vez a euforia entorpecente da paixão desmesurada, escandalosa e autocentrada. Gostaria de dar adeus a toda essa prudência, a todo comedimento, a essa ninharia de sentimentos e me jogar daquela ponte em você.
Muito lindo!!!!!
ResponderExcluirÉ a lembrança mais infinta que trazemos de nossa juventude, quem não cometeu este crime: a paixão desmedida?
Mas se hoje, ela ainda é possível, por que não construir novas pontes?
Bjs
Grande abraço.