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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O torçal mágico





Regência Sabará era uma solteirona que vivia há anos em um apartamento de dois quartos no centro da cidade em companhia apenas de seus muitos livros e um gato velho e preguiçoso chamado Bilac. Deu-lhe o nome do escritor por ser o seu favorito, e quando percebeu que não se tratava de uma homenagem era tarde demais, pois o animal não atendia por nenhum outro nome que lhe dessem.


A doce senhora de mãos de fada e olhos negros ainda curiosos, acostumada aos livros como a amigos e companheiros, encontrou em seus guardados um torçal que havia esquecido dentro de um baú de viagens, fechado há pelo menos cinqüenta anos. Apesar do tempo que permaneceu guardado, o torçal parecia novinho em folha. Esquecida do motivo pelo qual guardara tão bem aquele objeto de beleza fantástica, Regência Sabará o amarrou inocentemente à cintura. Mal terminou de dar o nó, o apartamento girou ao seu redor e ela não soube explicar o que acontecia. Parou deitada num campo de margaridas, sentindo uma brisa suave soprar sobre seu corpo e estranhou alguns fios de cabelos castanhos caídos sobre seu rosto. Quando ergueu a mão para afastá-los, percebeu que eram seus e levantou de um salto. Olhou para seus braços e pernas, tocou seu rosto, o corpo também e, assustadoramente, constatou que havia voltado no tempo a uma época longínqua e maravilhosa. Com certeza tinha seus vinte anos de volta.


Ao invés de se apavorar como qualquer pessoa faria, alegrou-se tanto que começou a dançar; dançava tão divinamente que não sentia o chão sob os pés. Foi flutuando até o galho mais alto de uma árvore e observou a paisagem. Até onde sua visão poderia alcançar, havia colinas e vales, serpeados por riachos cristalinos e salpicados de animaizinhos minúsculos por causa da distância. Pensou em Bilac. Como será que ele estava agora? Levantara-se de seu tapete moradia? Sentira falta dela? Afastou os pensamentos rapidamente, temerosa de ser mandada de volta para o apartamento pequeno e solitário, seu lar há tantos anos. Pensou em como faria para chegar à beira de um dos rios, pois sentia sede. Foi só pensar que apareceu ao lado de um rio largo e tão profundo que suas águas eram bem escuras e as bolhas que o vento fazia na superfície, pareciam estrelas piscando para Regência, e cortinas balançavam tocando-lhe a face.


Cortinas?


Regência abriu os olhos e percebeu que se encontrava em seu apartamento, sentada em sua poltrona favorita, com Bilac no tapete à seus pés. A janela aberta deixava entrar um ventinho gostoso, e o céu da noite estava repleto de estrelas.


Caído no tapete ao lado do gato havia um livro. Abaixou-se, pegou-o e leu o título: O torçal mágico. Então sorriu e pensou:


“Foi isso afinal.”


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