Seguidores

Total de visualizações de página

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Resumo

Você já foi
tatuagem
sobre minha pele
alva;
hoje não passa
de uma brisa
suave sobre a
relva.

Décadence

Estou esfarelando
a cada dia, hora, ano...
Esse pó que se amontoou
se desapega lentamente agora.
Quem sabe até quando
não me torno fuligem?
Quem sabe até como
vai essa vertigem?!







sábado, 28 de junho de 2014

Gosto.

Gosto do descomposto.
Do teu rosto entre restos
predispostos,
do desgosto dos caminhos
sempre opostos,
do exposto em retalhos
justapostos.
Gosto do teu desgosto
no teu rosto refletido
por meus olhos.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Andando.

Buracos na calçada:
não sinto nada!
Piso desníveis
como se fossem nuvens.
Com impossíveis
faço montagens,
imaginadas
entre resmungos.
Aos improváveis sonhos
despidos, respondo:
- Vivo entro dois mundos!

quinta-feira, 6 de março de 2014

Insight.

Quero escrever,
mas estou cansada.
Cansada dos versos exatos,
das rimas óbvias,
do politicamente correto,
da falta de um sentimento
que me dê o poema todo
desajeitado,
involuntário,
sedento e satisfeito
de uma forma inexplicável.
Cansada das palavras escolhidas,
das ideias filtradas,
da vergonha castradora.
Estou em busca do poema
que venha do subterrâneo,
mesmo que sujo,
inadequado,
constrangedor.
Uma poema que diga a que vim.
Um poema que fale de mim!
Do que penso, passo, peso,
meço, mudo, mato, sinto,
 minto, calo. Um poema
nascido do ralo.

terça-feira, 4 de março de 2014

Barroco.

Desejo e me culpo.
Desculpo
meus anseios
e revejo as ações.
De um lado
quero o beijo
e do outro,
beliscões.
Quero a dor
pungente e fria,
e a paz da alegria
de estar entre iguais.
Sou as duas faces
cúmplices
de selvagens cavalheiros
e distintos canibais.
O conflito é meu tema
e discuto meus problemas
na igreja
e na esbórnia.
Se topo com o divino,
expio e bato o sino,
rezo e conto história,
mas se a noite é de ninguém
lembro do meu Carpe Diem
e aproveito a minha glória.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Expurgo.

Tô dispensando
seu sarcasmo.
O pleonasmo,
do entusiasmo
do seu sorriso
estúpido,
estóico,
etílico.
Quero distância
da sua ânsia,
da inconstância,
da sua argúcia,
e da audácia
da sua malícia
dialética.
Que vá às favas
com seus amplexos
e os complexos
tão esdrúxulos.
Pega seus ósculos
ralos,
tolos,
rotos,
e os seus estalos
esquizofrênicos -
subsolos
de uma alma
doentia
e anamórfica -
e se afaste,
e se perca,
se desgaste,
desapareça
na poeira
do caminho!

domingo, 2 de março de 2014

Coro dos favorecidos.

Se falta sangue
nesse verso
controverso,
eu te invejo,
mas não aponto
o que vejo.
Apenas passo
sobre as horas
e me disperso,
e desconverso,
e só falo de gracejos.
Não denuncio,
não reclamo
seus direitos,
tô me danando
pro descaso
ao excluído;
Só me importam
meus reversos
pessoais,
num universo
- de pedaços -
construído.
Sua pobreza,
sua fome, sua dor,
suas misérias,
seus reclames,
seu amor,
nenhuma forma
em seu viver
me humaniza.
Tô me lixando
para as lutas
por iguais.
Tô dispensando
consciência,
coletiva.
Se é perverso
o que sinto,
não é sozinho.
Iguais a mim
têm aos milhares
no caminho.
Vai preparando
seus diversos
argumentos.
Serão a casa
e a comida
que precisas,
Serão seus filhos
e a esposa
tão amada.
Serão a cama
sob as costelas finas
a perfurar a sua pele
retalhada.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

(Des) Envolvimento.

Essa calçada
riscada de giz,
passou por um triz.
E o pique esconde
na rua do bonde
virou cicatriz.

Dorme criança
e acorda atriz!

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Retrato.

Sou folha
que o vento dispersa,
sou persa
em meio à batalha,
sou falha
em terreno escarpado,
bailado
na última dança.
Sou lança
pontiaguda;
Ajuda,
na hora do aperto.
Deserto
sem fim nem começo,
se esqueço
de ler o Neruda.
Sou muda
que vinga na terra,
que berra
por direito à vida.
Sou lida
no sol e na chuva,
a curva
que a estrada conserva.
Sou serva
Que não se contenta,
e tenta
dar molde à palavra;
sou lava
que o chão arrebenta;
a escrava
que o verso liberta:
quieta,
é quando declaro;
se falo,
se esconde a poeta.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Menino de rua.

Ele vai pra escola
só pela comida -
é assim a vida.
Ele cheira cola
no meio da rua,
e a culpa é sua!
Ele pede esmola
sem dignidade
em tão tenra idade,
e, numa sacola
leva um pão partido
pro irmão querido.

O menino implora,
- "Mas a vida é dura"! -
diz o caminhante.
E, sem mais demora,
lacra a sepultura
de seu semelhante.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Futuro do pretérito.

- Eu não faria isso se fosse você!
- Isso o quê?!
- Isso de me abandonar.
- Nem me passaria pela cabeça.
Mas, caso você me enlouqueça,
posso até vir a pensar!
- Sabia! Admita que faria!
Que pensa nisso todo dia.
Foi só me apaixonar.
- Mulher! Eu te amava até agora,
mas acho melhor ir embora
antes de tudo acabar.
Pensei que nosso amor
fosse inteiro
mas vejo
que o que é verdadeiro
é a vontade de acertar!

Passado mais-que-perfeito.

Ai, como eu queria
o estômago de antes,
o coração de antes,
o metabolismo de antes...
Como eu desejo agora
a paciência de antes!
O riso frouxo de antes
ainda visita o futuro.
Lembro-me com carinho
das noites insones de antes
e dos pequenos rompantes
e de amar devagarinho.
Lembro-me que o dia era festa
e a noite é o que me resta
nesta parte do caminho.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Travessura.

Poesia
é criança mimada,
que só fala
do que lhe interessa.
Em assunto
que não lhe diz nada,
não tem pressa.
Mas se a pena
desenha as letras
que deseja,
poesia
corre e graceja:
pura alegria!

Neurastenia.

O relógio é ágil
e agora é hora
de amanhecer.
O poeta é frágil
e segura a barra
sem enlouquecer.

Mas o tempo é curto
e não suporto a ideia
de desaparecer.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Maya.

Fiz um poema
sobre nós dois
e ele era nuvem,
era a água
que descia do céu
e se tornava oceanos,
e rios e lagos...
e eu pulava as poças
sabendo que pulava versos.

Fiz um poema
e éramos felizes.
Éramos leves, sorridentes
e eternos.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Mil novecentos e tal.





Foi no primeiro dia
de um carnaval qualquer
que seu olhar cruzou o meu
e minha cabeça flutuou
entre dois mundos paralelos.
Eu possuía alegrias inocentes
e não sabia chorar.
Naquele carnaval
aprendi intensidade.
Deixei que os anos rolassem
como grandes bolas de neve
até onde a dor fosse
só mais um grão entre outros.
Agora digo, sem amarguras,
que amar é se transformar
em uma versão mais densa de si mesma.

Pergunta de namorados.

Fiz um versinho de amor
e, cansado, amor não leu.
Pergunto: - Amor, como chama
o bicho que te mordeu?!

Dias de cão.

Hoje talvez não seja o melhor
dia para fazer um poema,
mas farei mesmo assim.
Farei um poema pra mim.
Algo que me console da dor.
Hoje é um dos dias de cão,
quando pensamos em desistir,
quando a noite cai antes da hora,
quando a paciência vai embora,
e tudo o que temos é o não.
Hoje talvez dure um ano
ou acabe daqui a dois segundos.
Nesse terreno, não há garantias,
a vida é uma sucessão de agonias,
com breves espaços em branco.

A Morte.



A morte tira assuntos
de debaixo do tapete.
É uma grandessíssima
desentocadora de mágoas.
Aquelas mesquinharias
que estavam escondidas
nos cantos mais asquerosos
de nossa alma.
A morte levanta as poeiras
e muda os móveis
de lugar.
Sacode o mundo da gente
e senta para assistir as mudanças.
É chave que tranca ou liberta,
dependendo da porta que temos.
pode ser tempestade de areia,
que crava garras afiadas
na pele seca,
ou brisa suave e fresca,
que deixa paz ao passar.
Eu não tinha me dado conta até agora,
mas é parte da vida
como os olhos são parte do corpo,
como a letra é parte do texto,
como somos partes da história.
Não há como ignorá-la,
não há como distraí-la,
não há como negá-la,
pois é como a própria vida!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Preferências.

Gosto de desconstruções
De desfazer conceitos
De não ter opiniões
Costuradas em meu peito.
Gosto das incertezas
Que são a cara da vida,
De encontrar beleza
na chegada e na partida.
Gosto do que não se diz,
Dos silêncios pontuais,
Que adiam por um triz
O confronto entre iguais.
Gosto da água que escorre
Veloz entre as pedras inertes.
Gosto do tempo que corre,
De tudo o que me liberte!
Gosto de gente que entende
As próprias limitações,
Daqueles que compreendem
Que certezas são prisões.
Gosto dos que pagam pra ver
E não esperam os outros,
Dos que fazem acontecer,
Dos que agem como loucos.
Gosto de desafios
E de buscar a verdade.
Gosto de estar por um fio
Entre o amor e a felicidade.
Gosto dessas palavras
Que tentam me definir,
E das voltas que faço com elas,
E de chorar e sorrir.
Gosto de ser na história
A mocinha e a vilã,
A que leva toda a glória
e a que se faz de irmã.
Gosto desse sentimento
Onipotente do escritor,
Vivendo cada momento
Entre a alegria e a dor.
Daí que faço e desfaço,
Teço e desalinhavo,
E, no que vou escrevendo,
As próprias batalhas travo
Entre o real e o sonho,
Entre nossos mundos distintos,
E em cada palavra ponho
O que vejo e o que pressinto.