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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Lílian, a carta e a pedra marcada - Indrodução:

Não sei quanto tempo fiquei parada, braços cruzados, pernas levemente afastadas. Poderia ter sido um minuto ou uma hora, estava tão mergulhada em meus pensamentos que não vi o tempo passar; só sentia a brisa fresca do mar batendo em meu rosto, embolando as pontas dos meus cabelos. Sempre que me sinto angustiada ou quando estou triste, ou simplesmente quando não posso fugir de tomar uma decisão venho ao Campo dos Refugiados – o nome não poderia ser mais apropriado – e me esvazio de tudo para me ocupar apenas do que é essencial no momento. Olho para as ondas batendo nas pedras, a espuma desaparecendo em segundos, fecho os olhos e me concentro no som que vem delas. É impressionante constatar o quanto o mar me acalma. Sinto tanta segurança no barulho das águas se movendo que não consigo resistir e chego mais para a ponta das pedras, ouço uma voz me chamar atrás de mim, mas antes que pudesse discernir seu rosto sou puxada violentamente para o mar. Tento me segurar, mas só o que consigo é deixar as marcas dos meus dedos no limo sobre as pedras. É inevitável que eu afunde então me lembro que a maneira mais rápida de uma pessoa se afogar é entrando em desespero. Deixo a corrente me levar até a força que me empurra para o fundo diminuir, a claridade do sol denuncia onde fica a superfície e uso toda a energia que me resta para nadar em sua direção. Para minha surpresa, uma camada espessa de vidro transparente impede minha passagem. Procuro uma saída, mas o mar está todo coberto de vidro. Desesperada, na certeza de que não tenho mais saída, começo a me debater e engolir água, aquela água salgada entra por minha boca e nariz como se fosse fogo, ardendo e arranhando tudo por onde passa. Em questão de segundos sinto que estou perdendo os sentidos, mas algo dentro de mim insiste em lutar. Olho para o alto como última tentativa de sobrevivência, dando murros contra o vidro para chamar a atenção da única pessoa parada nas pedras, no exato lugar de onde caí. Ela vira o rosto na minha direção, impassível, e só então me dou conta de que a pessoa sou eu.
Acordei assustada, o corpo embebido em suor, já é de manhã e parece que dormi durante meia hora no máximo, meu corpo precisa descansar, mas minha cabeça não relaxa. Há meses venho sofrendo de insônia e tendo esse mesmo sonho de que estou me afogando e não tenho escapatória, desde que recebi a notícia de que minha vida mudaria drasticamente pela segunda vez. A primeira foi há muitos anos, quando eu era apenas uma garotinha...



luanaetrintaalmasteen.blogspot.com

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