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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

As coisas que fizemos para nos desmerecer...








  Ela o amava mais que todos que teve. Mais que todos juntos. Como se estivesse perdendo a visão e ele fosse o por-do-sol. Desde o início sabia que haveria um fim, e o fato de desconhecer o quando, o onde ou como, deixava-a numa agonia constante, um eterno suspense. Nem conseguia viver cada instante com intensidade, por não saber lidar com a pressão da iminência do fim; também não conseguia mandar tudo para o espaço e acabar logo com o tormento. Foi justamente esse comportamento que abreviou a crise e provocou a ruptura anunciada. Seu desespero foi o veneno da relação, o fósforo riscado na trilha de pólvora. E tudo foi pelos ares.


Vamos voltar alguns anos para entender como tudo aconteceu. Conheceram-se em uma festa, os dois a trabalho. Ela era secretária e ele assessor de influentes empresários do mesmo ramo; assuntos em comum os aproximaram. É verdade que ele recebeu um incentivo a mais do chefe, que achou conveniente ter um contato no concorrente. Prometeu até uma promoção, caso conseguisse informações interessantes. Para ela foi a realização de um sonho, estava apaixonada e tinha certeza que dessa vez encontrara o cara certo.


No início tudo foi perfeito, exatamente como o torpor e a imbecilidade dos apaixonados permitem acontecer. Ele não tinha defeitos para ela. Passaram a morar juntos em apenas três meses. Com o tempo, porém, tornaram-se os piores pesadelos um do outro. Inimigos mortais dividindo a mesma cama. Ele a traía descaradamente, e ela se entupia de remédios, tornando-se cada vez mais distante da pessoa que havia sido até ali. Chegou ao limite de tudo o que é aceitável que uma pessoa faça para se manter merecedora do respeito alheio e, ao transpor esse limite, o fez com a sensação de não poder mais trilhar o caminho de volta. Cobrou dele as promessas feitas na cumplicidade da madrugada, como quem cobra aos pais uma história antes de dormir. E sua ingenuidade era a desculpa que usava para justificar a maneira como enxergava a vida. Exigia dele que fosse perfeito, que fosse exatamente com imaginava que deveria ser. “As pessoas não são como sonhamos, querida!” Mas quem disse que ela dava ouvidos?! Meteu na cabeça que o ator daquele filme se comportava da forma como ele deveria, como todos os homens deveriam ser. Queria fazer do vilão um mocinho a qualquer custo. Não conseguiu. Sua insistência trouxe o desentendimento, e em pouco tempo não se reconheciam mais. Ou será que nunca tinham se conhecido?


No domingo à tarde, depois que ele disse que havia se apaixonado por outra pessoa, mais leve, mais real, mais equilibrada, mais jovem... depois que ela gritou, ameaçou, e fez uma cena que havia visto há muito tempo, ele pegou as malas e bateu a porta. Ela foi até o quarto, pegou o espelho, colocou à sua frente e deslizou, chorando na parede oposta, para ver se estava fazendo a cena direitinho.


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