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sábado, 27 de agosto de 2011

A maçã envenenada.




A menina branca como algodão e de cabelos e olhos tão pretos quanto poderiam ser, atendia na banquinha de verduras do Mercado Municipal. Até há pouco tempo, sua vida era estudar e brincar de bonecas, mas depois que sua mãe morreu e o pai resolveu se afundar na bebida tudo mudou.

Cuidava da banca durante o dia e estudava à noite. A melhor aluna. Aliás, Bianca sempre se sobressaía em tudo o que fazia. Os colegas de trabalho a respeitavam e admiravam tanta responsabilidade numa menina tão nova. Bonita, simpática, generosa... não lhe faltavam elogios e clientes. Todos queriam dois dedinhos de prosa com a menina mais linda e doce da cidade.

Acontece que tantos predicados não atraem somente admiradores, e havia uma vizinha de banca, vendedora de frutas, que nutria por Bianca ódio intenso, alimentado por uma alma invejosa. Leona desejava para si todos os elogios que a outra recebia, mas não possuía a mesma doçura e, por isso mesmo, parecia feia. Não percebia que o sorriso sincero e a alma bondosa enfeitam mais que qualquer atributo físico. Enquanto Bianca distribuía calor com suas atitudes acolhedoras, Leona era um porão abandonado de amargura e cobiça.

Movida por sentimentos vis, Leona resolveu oferecer a Bianca uma de suas maçãs, mas não uma maçã comum, essa estava envenenada. A menina, que não esperava nenhuma atitude ruim de quem quer que fosse, comeu e, imediatamente começou a passar mal. Seus amigos, desesperados, chamaram a ambulância e a levaram ao hospital mais próximo. Leona também estava entre eles, fingindo preocupação e carinho.

Algumas horas depois, o médico plantonista veio dar alguma notícia e ela não era boa. Bianca estava em coma e seu estado não era dos melhores. O pai da menina chegou pouco depois, nitidamente embriagado. Os amigos de Bianca passaram a noite toda em vigília e, nos dias seguintes, fizeram uma escala para que ela pudesse contar com alguém caso voltasse do coma. Mas ela não voltava.

O médico responsável pelo caso, Doutor William, não possuía só o nome de príncipe, todo ele era cavalheirismo e nobreza. Dedicou-se à recuperação de Bianca com a persistência dos invencíveis e chegou mesmo a não abandonar o plantão só para não ter que se separar dela. Sem perceber, apaixonou-se pela menina de pele de marfim e cabelos negros, de quem os amigos só contavam histórias de bondade e dedicação. Comoveu-se com a figura de seu pai, homem simples e sensível, que não soube o que fazer depois que perdeu o grande amor de sua vida. Dr. William decidiu que não descansaria enquanto Bianca não voltasse do coma.

Enquanto o jovem médico dedicava-se à recuperação de Bianca, o pai da menina, abalado com a possibilidade de perdê-la, parou de beber e jurou jamais voltar caso a filha sobrevivesse. Mas o tempo passava e a moça não saía do coma, então o hospital avisou ao pai que os aparelhos precisariam ser desligados. Afinal de contas, tudo já havia sido feito e não restavam esperanças. A tristeza tomou conta de todos, e Dr. William conseguiu um tempo com a paciente para se despedir sem que o hospital percebesse. Deu-lhe um beijo e sussurrou que jamais a esqueceria. Imediatamente os olhos da moça se abriram e ela voltou à vida para a alegria de todos.

Durante os dias que ainda precisou ficar internada, Bianca ficou sabendo da dedicação do médico e se comoveu. Ambos puderam se conhecer um pouco mais e, quando a menina deixou o hospital, haviam encontrado o amor.

O pai de Bianca também cumpriu sua parte e não voltou a beber, retomou o comando da banca no Mercado, o que possibilitou à filha se dedicar aos estudos e levar uma vida mais leve. Dr. William pediu a amada em casamento e a data foi marcada para depois da formatura da jovem. Quem não se deu muito bem foi Leona. Quando soube que Bianca havia acordado, pensou que logo chegariam à conclusão de que foi ela quem envenenou a colega de trabalho e fugiu, deixando tudo para trás. Mas não foi muito longe, acabou presa por roubar um supermercado e agora passa mal constantemente com o que come na cadeia.

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