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quinta-feira, 6 de março de 2014

Insight.

Quero escrever,
mas estou cansada.
Cansada dos versos exatos,
das rimas óbvias,
do politicamente correto,
da falta de um sentimento
que me dê o poema todo
desajeitado,
involuntário,
sedento e satisfeito
de uma forma inexplicável.
Cansada das palavras escolhidas,
das ideias filtradas,
da vergonha castradora.
Estou em busca do poema
que venha do subterrâneo,
mesmo que sujo,
inadequado,
constrangedor.
Uma poema que diga a que vim.
Um poema que fale de mim!
Do que penso, passo, peso,
meço, mudo, mato, sinto,
 minto, calo. Um poema
nascido do ralo.

terça-feira, 4 de março de 2014

Barroco.

Desejo e me culpo.
Desculpo
meus anseios
e revejo as ações.
De um lado
quero o beijo
e do outro,
beliscões.
Quero a dor
pungente e fria,
e a paz da alegria
de estar entre iguais.
Sou as duas faces
cúmplices
de selvagens cavalheiros
e distintos canibais.
O conflito é meu tema
e discuto meus problemas
na igreja
e na esbórnia.
Se topo com o divino,
expio e bato o sino,
rezo e conto história,
mas se a noite é de ninguém
lembro do meu Carpe Diem
e aproveito a minha glória.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Expurgo.

Tô dispensando
seu sarcasmo.
O pleonasmo,
do entusiasmo
do seu sorriso
estúpido,
estóico,
etílico.
Quero distância
da sua ânsia,
da inconstância,
da sua argúcia,
e da audácia
da sua malícia
dialética.
Que vá às favas
com seus amplexos
e os complexos
tão esdrúxulos.
Pega seus ósculos
ralos,
tolos,
rotos,
e os seus estalos
esquizofrênicos -
subsolos
de uma alma
doentia
e anamórfica -
e se afaste,
e se perca,
se desgaste,
desapareça
na poeira
do caminho!

domingo, 2 de março de 2014

Coro dos favorecidos.

Se falta sangue
nesse verso
controverso,
eu te invejo,
mas não aponto
o que vejo.
Apenas passo
sobre as horas
e me disperso,
e desconverso,
e só falo de gracejos.
Não denuncio,
não reclamo
seus direitos,
tô me danando
pro descaso
ao excluído;
Só me importam
meus reversos
pessoais,
num universo
- de pedaços -
construído.
Sua pobreza,
sua fome, sua dor,
suas misérias,
seus reclames,
seu amor,
nenhuma forma
em seu viver
me humaniza.
Tô me lixando
para as lutas
por iguais.
Tô dispensando
consciência,
coletiva.
Se é perverso
o que sinto,
não é sozinho.
Iguais a mim
têm aos milhares
no caminho.
Vai preparando
seus diversos
argumentos.
Serão a casa
e a comida
que precisas,
Serão seus filhos
e a esposa
tão amada.
Serão a cama
sob as costelas finas
a perfurar a sua pele
retalhada.