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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Futuro do pretérito.

- Eu não faria isso se fosse você!
- Isso o quê?!
- Isso de me abandonar.
- Nem me passaria pela cabeça.
Mas, caso você me enlouqueça,
posso até vir a pensar!
- Sabia! Admita que faria!
Que pensa nisso todo dia.
Foi só me apaixonar.
- Mulher! Eu te amava até agora,
mas acho melhor ir embora
antes de tudo acabar.
Pensei que nosso amor
fosse inteiro
mas vejo
que o que é verdadeiro
é a vontade de acertar!

Passado mais-que-perfeito.

Ai, como eu queria
o estômago de antes,
o coração de antes,
o metabolismo de antes...
Como eu desejo agora
a paciência de antes!
O riso frouxo de antes
ainda visita o futuro.
Lembro-me com carinho
das noites insones de antes
e dos pequenos rompantes
e de amar devagarinho.
Lembro-me que o dia era festa
e a noite é o que me resta
nesta parte do caminho.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Travessura.

Poesia
é criança mimada,
que só fala
do que lhe interessa.
Em assunto
que não lhe diz nada,
não tem pressa.
Mas se a pena
desenha as letras
que deseja,
poesia
corre e graceja:
pura alegria!

Neurastenia.

O relógio é ágil
e agora é hora
de amanhecer.
O poeta é frágil
e segura a barra
sem enlouquecer.

Mas o tempo é curto
e não suporto a ideia
de desaparecer.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Maya.

Fiz um poema
sobre nós dois
e ele era nuvem,
era a água
que descia do céu
e se tornava oceanos,
e rios e lagos...
e eu pulava as poças
sabendo que pulava versos.

Fiz um poema
e éramos felizes.
Éramos leves, sorridentes
e eternos.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Mil novecentos e tal.





Foi no primeiro dia
de um carnaval qualquer
que seu olhar cruzou o meu
e minha cabeça flutuou
entre dois mundos paralelos.
Eu possuía alegrias inocentes
e não sabia chorar.
Naquele carnaval
aprendi intensidade.
Deixei que os anos rolassem
como grandes bolas de neve
até onde a dor fosse
só mais um grão entre outros.
Agora digo, sem amarguras,
que amar é se transformar
em uma versão mais densa de si mesma.

Pergunta de namorados.

Fiz um versinho de amor
e, cansado, amor não leu.
Pergunto: - Amor, como chama
o bicho que te mordeu?!

Dias de cão.

Hoje talvez não seja o melhor
dia para fazer um poema,
mas farei mesmo assim.
Farei um poema pra mim.
Algo que me console da dor.
Hoje é um dos dias de cão,
quando pensamos em desistir,
quando a noite cai antes da hora,
quando a paciência vai embora,
e tudo o que temos é o não.
Hoje talvez dure um ano
ou acabe daqui a dois segundos.
Nesse terreno, não há garantias,
a vida é uma sucessão de agonias,
com breves espaços em branco.

A Morte.



A morte tira assuntos
de debaixo do tapete.
É uma grandessíssima
desentocadora de mágoas.
Aquelas mesquinharias
que estavam escondidas
nos cantos mais asquerosos
de nossa alma.
A morte levanta as poeiras
e muda os móveis
de lugar.
Sacode o mundo da gente
e senta para assistir as mudanças.
É chave que tranca ou liberta,
dependendo da porta que temos.
pode ser tempestade de areia,
que crava garras afiadas
na pele seca,
ou brisa suave e fresca,
que deixa paz ao passar.
Eu não tinha me dado conta até agora,
mas é parte da vida
como os olhos são parte do corpo,
como a letra é parte do texto,
como somos partes da história.
Não há como ignorá-la,
não há como distraí-la,
não há como negá-la,
pois é como a própria vida!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Preferências.

Gosto de desconstruções
De desfazer conceitos
De não ter opiniões
Costuradas em meu peito.
Gosto das incertezas
Que são a cara da vida,
De encontrar beleza
na chegada e na partida.
Gosto do que não se diz,
Dos silêncios pontuais,
Que adiam por um triz
O confronto entre iguais.
Gosto da água que escorre
Veloz entre as pedras inertes.
Gosto do tempo que corre,
De tudo o que me liberte!
Gosto de gente que entende
As próprias limitações,
Daqueles que compreendem
Que certezas são prisões.
Gosto dos que pagam pra ver
E não esperam os outros,
Dos que fazem acontecer,
Dos que agem como loucos.
Gosto de desafios
E de buscar a verdade.
Gosto de estar por um fio
Entre o amor e a felicidade.
Gosto dessas palavras
Que tentam me definir,
E das voltas que faço com elas,
E de chorar e sorrir.
Gosto de ser na história
A mocinha e a vilã,
A que leva toda a glória
e a que se faz de irmã.
Gosto desse sentimento
Onipotente do escritor,
Vivendo cada momento
Entre a alegria e a dor.
Daí que faço e desfaço,
Teço e desalinhavo,
E, no que vou escrevendo,
As próprias batalhas travo
Entre o real e o sonho,
Entre nossos mundos distintos,
E em cada palavra ponho
O que vejo e o que pressinto.