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sábado, 31 de agosto de 2013

Linguística.

O que é código? O que é língua?
Não quero morrer à míngua
Da linguística tão necessária!

Quero sacar Saussure
E as coisas que nunca vi
Sem entupir minha coronária!

Langue, sintagma, diacronia,
Parole, paradigma e sincronia,
E mais expressões da área:

Só tendo dois corações
Para suportar duas articulações
Sem se sentir solitária.

Com o significante e o significado,
Que bom termos Vania Bernardo,
E sua atenção solidária!

Estratos.

Do Ibérico temos barro,
Baía, esquerdo, balsa e cama.
O Celta nos deu carro,
Caminho, camisa e cabana.
O Fenício e o Púnico deram
Barca e mapa, respectivamente.
Do Grego as que vieram
Foram muitas, certamente.
Esses são os substratos
do português europeu.
Isso, qualquer literato
Sabe bem mais que eu.

O adstrato, Ednalda garante,
Vem do árabe e do provençal:
Algodão, alecrim, alicate,
Alqueire, arroba e quintal.
Tem alarde, alcunha, alvará,
Algazarra, javali, alarido.
In sha Allah se tornou oxalá!
Almofada, azulejo e garrido,
Califa, aduana e alcova,
Alaúde, açafrão e tambor.
Lembrar disso tudo na prova
Foi teste de marca maior.

Não pense que tudo acabou,
Ainda temos o superstrato,
Que nos influenciou
Bem mais que o substrato!
São da vida militar:
Albergue, dardo e brasão,
Estribo, espeto e estampar,
Espora, arauto e galardão.
E se for escarnecer,
A palavra também é de lá.
“Fica doido não bebê!”
O importante é estudar.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Questionamento.

O que é a loucura, afinal?
Acreditar em meus sonhos?
Viver como acho melhor?
E, como Quixote, o mal
não perceber tão medonho?

O que encontro é sinal
que me reforça, suponho,
a manter, por força maior,
o que ao destino fatal
por pura crendice proponho:

Viver como acho melhor!
E que seja loucura, afinal,
o que quer que seja meu sonho!

Verossímil.



Não sou poeta,
sou uma arranjadora
de versos.
Escrevo o que sinto,
e o que sinto
não tem nada de real.
O que sinto
é como apreendo
cada uma das coisas
que acontecem
ao meu redor;
e tudo depende
de minha
turva visão limitada
por medos, preconceitos,
ou por simplesmente
não estar num
ângulo favorável -
esse lado de dentro -
esse miserável
e desfavorável
lado de dentro!

Precipitação.

Sob as velhas
palmeiras
perfiladas,
e o escuro azul
do céu noturno,
ando a pensar
nas formas
abstratas
dos papéis
que revezamos
turno a turno.
Ando a pensar e
não fujo de onde
a caminhada nos fez dar,
finalmente; não há
caminhos ou atalhos
nessa estrada,
só precipício
e um desfecho
obsequente.

Adiamento.

Corri do avião,
corri da chuva,
corri do cachorro
irritado.
Achei que correndo
de tudo
faria do tempo aliado!
Hoje sei, com certeza,
que nada é como desejo;
por isso, não sei até
hoje, o gosto que tem
o seu beijo.

Visagem.


Olha o menino aí
correndo descalço
pelas calçadas:
na mão carrega
uma pipa; nos ohos,
a vida toda!

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Nua.

Dá-me um tema
e te faço um verso.
Dá-me a pena
e te desconcerto!
Dá-me teu beijo
e eu desconverso;
peça-me tudo,
mas não peça nexo.

Sou a confusa,
a que tem segredos.
À luz difusa,
esqueço meus medos.

Mas não se engane
com minha aparência:
faço a madame
sem qualquer decência.

E te engano
sem hesitação,
de que não há dano
em meu coração.
Quando a verdade
é bem diferente:
a dor me arde
como óleo quente.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Odisseia.

Ulisses, bravo guerreiro,
que a ira de um deus suscitou
ficando longe da esposa,
que por vinte anos bordou
um misterioso tapete -
à espera de seu companheiro;

Retorna à casa primeiro
e, aos que por lá encontrou,
se faz de mendigo e esboça
um plano que aos mais agradou:
a mão de Penélope compete
ao que for mais hábil arqueiro!

Venceu a todos e, certeiro,
os pretendentes matou,
se deu a conhecer à esposa
e sua cidade voltou
a ser a casa do príncipe
que aos mares sobrepujou!