Mais uma segunda-feira como tantas que já passaram pela vida da jovem Cindy, pelo menos era o que ela achava. Desde que seu pai morreu, deixando-a aos cuidados da madrasta, Cindy não teve mais um momento de descanso. Levantava as cinco da matina, preparava o café, punha a mesa e começa a passar a roupa recolhida na noite anterior. Fazia todas as tarefas enquanto a casa ainda dormia e, Borralho, o gatinho da família, passeava entre suas pernas ronronando baixinho como se conversasse.
Quando Dona Genoveva e as filhas acordassem Cindy desejaria estar em qualquer lugar do mundo, menos em casa. Sua sorte é que elas costumavam acordar tarde, hora em que ela já estava a caminho do trabalho. Cindy trabalhava como vendedora em um shopping não muito longe dali, mas sonhava mesmo era em ser dançarina, modelo ou atriz. Queria viajar pelo mundo e não precisar voltar para casa no final do dia. Sentia saudades de seus pais e da vida maravilhosa que teve ao lado deles, mas não podia voltar o tempo e não era saudável viver no passado. Por isso seguiu em frente e tentou se adaptar o mais que pode na vida de empregada da casa em que foi criada e que deveria ser dona. Também não se afundou em tristeza depois que a madrasta a proibiu de continuar o balé, só lamentou muito ter saído da escola, achava quase impossível mudar a situação na qual estava sem uma formação decente. Todo o dinheiro que recebia na loja era entregue nas mãos de Dona Genoveva, não ficava nem com o do lanche. Isso tornava bem mais difícil fazer algum curso, mesmo que escondido. Pensou então que nada dura para sempre e chegaria o dia no qual a madrasta estaria muito ocupada para perceber o que acontecia em sua vidinha sem graça.
Esse dia não demorou tanto assim para chegar. Quando chegou a casa tarde da noite, encontrou as irmãs em polvorosa por causa de um baile que aconteceria no bairro. Não seria um baile comum. Nesse em particular, o DJ Maicon, o carinha mais gato das redondezas, escolheria uma nova dançarina para seu show. É claro que as irmãs de Cindy iriam concorrer! Cindy também pediu autorização, mas a madrasta negou em meio a muitas risadas.
- Por quê? Por que não posso?
-Porque quanto menos concorrentes melhor para as meninas. Não que você seja uma ameaça, mas é melhor não arriscar.
E assim, a moça deu-se por vencida.
Os dias se passaram e, no dia do concurso Cindy trabalhou muito abatida. Verônica, – sua gerente e melhor amiga – percebendo que alguma coisa havia acontecido, conversou com Cindy e a moça lhe contou tudo. Inconformada, a amiga tirou algumas roupas do cabide e entregou à amiga dizendo:
- Vá, pegue emprestado e participe do concurso. Vou te deixar sair mais cedo e você me recompensa ganhando daquelas duas bruxas. Só tem um lance, hoje é dia de balanço e a roupa tem que estar aqui antes do amanhecer, lavada e seca. Cuidado na hora de tirar a etiqueta. Certo?
- Vê, não existe amiga melhor que tu. Deixa comigo. Vou e volto num instante.
E Cindy partiu em direção ao concurso radiante.
Quando entrou no baile, o DJ Maicon ficou impressionado com tanta beleza e carisma. Cindy era perfeitinha, só faltava saber se dançava bem. A menina subiu ao palco e “quebrou tudo”, deixando as outras competidoras humilhadas. Ganhou o concurso sem esforço, mas não houve tempo para receber o prêmio. Verônica ligou avisando que precisava dela na loja o quanto antes.
No dia seguinte, Cindy – que não era dessas mocinhas que esperam o príncipe tomar a iniciativa – ligou para a organização do evento e explicou que teve uma emergência, por isso saiu do baile antes do previsto. Passou o endereço da loja em que trabalhava e pediu que entrassem em contato.
Lá pelo meio da tarde, DJ Maicon em pessoa entrou na loja procurando por Cindy. Todos responderam quase juntos, apontando para a garota mais gata do lugar:
- Cindy? É ela!
DJ Maicon convidou Cindy para tomar um chope ali perto, conversaram e ela aceitou ser uma de suas dançarinas. Casaram-se seis meses depois e, dizem as más línguas, Dona Genoveva e as filhas não se conformaram até hoje.